You are currently viewing Tão frágil a eternidade

Tão frágil a eternidade

Paira sobre o Douro uma luz tão macia
Que o vento não dobra nem acaricia
E o tempo estanca, instante de fulgor…
Não sei se é liberdade ou se é dor
Este sentimento que em mim exulta…

Nas dobras do tempo vive a eternidade
Que o bulício da vida quase sempre oculta
Não há passado nem futuro, há apenas espaço
Que o instante presente desenha a cada passo
Num frémito de luz resplandecente.

Dói o meu peito de uma dor antiga
De uma dor humana, rasgada e permanente:
Queria que tudo fora eterno e tudo é transitório
Queria que tudo fora certo e tudo é ilusório
Onde arranjar certezas e encontrar abrigo?

É a humanidade inteira que em mim se rebela
Em uma não-aceitação de perpétua querela
Bem vã aliás e totalmente inútil….

Porém, de algo me serve ter feito esta demanda
Porque no fundo dessa dor que me arrepanha
Que é tão dura, tão paradoxal e tão estranha
Que mais parece uma ternura
Encontro a única certeza que jamais terei:
É com amor que se combate este vazio
Mas não um amor normal, mero arrepio
É preciso que seja louca explosão de ternura ardente
Insustentável aperto que oprime o coração

Dor do mundo, ferida da alma, completa aceitação…
Um amor que seja mão estendida, pés a caminho
Abraço que tudo abarca e nada afasta
Rio caudaloso que tudo transporta e tudo arrasta
Tão irremediavelmente fundo que desagua em mágoa
Dentro de nós como num mar luminoso
Deixando-nos os olhos sempre toldados de água…

Tudo é tão frágil, meu amigo,
Tão delicado!
Um sopro nos traz, outro nos leva
E neste entretanto que não dura
Ou se tem coragem e se vive com ternura
Ou não se vive em paz.

This Post Has One Comment

  1. Lam Zang

    Esse amor não tem explicação, é um estado de graça, uma libertação!

Deixe uma resposta