Recentemente uma amiga de longa data veio-me visitar. Sabendo que, no caminho, tinha atravessado a floresta, perguntei-lhe o que tinha observado. “Nada de especial”, respondeu ela.
Se não estivesse já habituada a este tipo de respostas não teria acreditado. Mas faz tempo que compreendi que os que têm olhos não vêem.
Pensei para comigo “Como é possível não notar nada de especial num passeio de uma hora pelo campo? Eu que não vejo encontro milhares de coisas fascinantes apenas pelo toque. Sinto a delicada simetria de uma folha. Passo as mãos, com ternura, sobre a superfície lisa da bétula e sinto o contraste com a casca rugosa do pinheiro. Na Primavera, percorro os ramos à procura dos botões… Sinto o veludo de uma flor… Delicio-me com a água fria do riacho a correr entre os dedos. Para mim um sumptuoso tapete de caruma ou de relva fofa vale todos os tapetes persas.
Se eu retiro tanto prazer apenas pelo toque, quanto mais beleza pode contemplar quem vê! Porém, aparentemente, os que têm olhos não a vêem. As paisagens, as cores e a actividade do mundo é, para eles, coisa banal.
É humano talvez aspirar ao que nos falta e valorizar pouco aquilo que temos. Mas é pena que no mundo da luz, o dom da visão seja apenas funcional e não um meio para gozar a plenitude da vida.
Helen Keller